Passei a gestação inteira dizendo que ela chegaria no mês de julho. Estratégia para aplacar a ansiedade alheia, já que doce espera sempre teve mais a ver com puta agonia pra mim. Não vou mentir, parece piada, mas não consigo curtir gravidez. Passo muito mal no início, depois fico mega prostrada, minha irritabilidade alcança níveis desumanos (pergunta lá pro marido!) e, por fim, engordo absurdamente. Não vejo graça. Lógico que tem o lado bom da coisa. Cabelos sedosos, filas preferenciais e, claro, o bebê que tá lá dentro. Quando os chutes não miram suas costelas, posso garantir, não há melhor sensação no planeta.
A DPP (data prevista pro parto), dia em que a gestação alcança 40 semanas, era 27 de junho. Eu tinha toda a fé do mundo que ela chegaria bem antes disso. Era tanto cansaço que rolava, uma impaciência tão grande da minha pessoa, que o bebê obviamente desejaria sair logo dali. Ambiente desfavorável. E eu conversava incansavelmente com a barriga sobre as vantagens de se viver aqui fora! Mas a gente tem que tomar cuidado é com o que diz mesmo. Porque junho acabou sem nenhum sinal de Jade.
Estávamos programando novamente um parto domiciliar. Os equipamentos da médica já estavam aqui em casa desde as 37 semanas de gravidez. Mas nos 45 minutos do segundo tempo, descobrimos sinais de diabetes gestacional. Assumo minha total irresponsabilidade com a gula. Era mês de festividades juninas e eu não economizei no curau e na canjica. Achava que nunca aconteceria comigo. Adeus parto domiciliar. Era uma quarta-feira e eu tinha acabado de completar 40 semanas. Se nada acontecesse até domingo, iríamos para o hospital induzir. A espera pela hora dela passou a contar com um risco desnecessário por conta da diabetes. Passei os últimos dias controlando minha glicemia de manhã, de tarde e de noite.
Fiquei numa tensão danada. Eu tinha muito medo de induzir. Já tinha ouvido muitos casos de indução que acabaram em cesárea. Tudo o que eu não queria na vida era passar horas sofrendo com contrações e acabar tendo de fazer uma cirurgia. Além disso, tinha o pavor do bebê ficar hipoglicêmico dentro da barriga, mas Jade era super agitada o que ajudava a acalmar meu coração aflito. Marquei acupuntura para induzir, fiz algumas caminhadas, tomei chá de canela e até apelei em orações pedindo pra turma lá de cima deixar a burocracia do céu de lado e mandar logo a criança. E nada. Domingo chegou e fomos para o hospital às 14h.
Depois de assinar os papéis da internação subimos para o quarto. Esse processo todo é meio lento, lembro bem que a enfermeira só chegou para aplicar o soro com medicação por volta de 16h da tarde. Pedi para a Dra. Caren fazer um toque antes da bagaceira começar e foi uma alegria imensa saber que eu já estava com 4cm. Eu estava perdendo tampão há algumas semanas, mas o colo do meu útero é indeciso. Às vezes se mostrava super favorável e a gente se animava achando que logo ia engrenar. Mas daí ele resolvia pregar peça e reverter a situação e voltávamos à estaca zero. Foi assim nas últimas duas ou três semanas de gestação. Mas 4cm não tínhamos alcançado ainda, por isso a minha festa!
Antes de ir para o hospital, passei na casa da minha mãe. Lembro de estar com bastante falta de ar, mas achava que era por conta do excesso de peso (eu já contava 30kg a mais) e do nervosismo. Ela me convidou a fazer uma espécie de meditação guiada e eu topei. Precisava mesmo respirar e me acalmar. No meio da coisa toda, visualizei o parto que eu queria. Teve uma imagem que marcou bem forte minha memória, eu pegando o bebê entre as pernas! Lembro de achar incrível o tanto que o bebê era firme e vermelhinho. Contei para a minha mãe sobre a visualização e saí da casa dela confiante. Minha mãe tem esse dom de transferir força com seu amor. Fico pensando no quão difícil deve ter sido para ela se despedir de mim, não estar lá por perto. Mas era a minha escolha, queria apenas Juan e a equipe ao meu lado. Fui respeitada e sou muito grata por isso.
Já no hospital, comento com Taíza (a enfermeira obstétrica) sobre a falta de ar. Relato já ter observado que era meio ritmada. Foi quando ela disse que provavelmente eram contrações. Foi nesse momento que passei a acreditar fortemente que tudo daria certo! Estávamos induzindo, mas Jade mostrava todos os sinais de que já estava pronta. Era questão de tempo. Às 17h, resolvi mandar uma mensagem para o Dr. Henrique. Eu tinha feito duas sessões de acupuntura com ele e na última, ele se colocou à disposição para ir até o hospital, caso eu sentisse necessidade. Ele não estava na cidade, mas disse que chegaria em algumas horas e entraria em contato. A tal falta de ar foi aumentando, fiquei fazendo exercícios na bola de pilates para ajudar. Mas eu não sentia dor.
Fazia bastante frio em Brasília. Mas eu nunca senti tanto calor quanto nessa gravidez. O quarto do hospital estava gelado para que eu ficasse confortável e todo mundo empacotado para aguentar o frio. Taíza de casaco e cachecol, e Dra. Caren coberta até o pescoço. Ela tinha acompanhado um outro parto na madrugada anterior, estava "virada". Lembro de desejar que ela conseguisse dormir profundamente naquele sofazinho horroroso. Eu queria que ela descansasse já que precisaria dela mais tarde, e não tínhamos ideia de que horas exatamente isso seria.
Dr. Henrique chegou umas 21h, fizemos uma sessão bem intensa com agulhas e eletrodos. Eu ainda não sentia dor. Conversava sobre tudo, ria de qualquer coisa. Antes de ir embora, ele falou com Taíza que meu processo estava bem lento, mas que achava que em 1h o trabalho de parto iria engrenar. Pois não deu outra. 23h30, mais ou menos, pedi um novo toque. Morria de medo de ter passado todo esse tempo e não ter evoluído nada, mas eu precisava saber. Quando Dra. Caren fez o toque foi pura emoção! Eu já estava com 7cm!! Sem dor! Nem nos meus melhores sonhos imaginei uma evolução tão significativa e tão suave. Nesse momento, constatamos também que a bolsa tinha estourado alta. Provavelmente durante o estímulo da acupuntura. Com a movimentação do toque, a água saiu.
Não me lembro ao certo em que momento decidimos amarrar o alto da barriga. Jade ficava flutuando. Aqui dentro tem muito espaço, afinal já tinha sido morada de gêmeos enormes! Jade era grande, mas não era duas. Depois que amarramos, as contrações ficaram bastante intensas e doloridas. Taíza continuou me guiando em alguns exercícios na bola e posições para auxiliar a descida do bebê. Tudo já tava bem desconfortável, era hora de chamar a Ana Paula (a fotógrafa).
Por volta de 1h depois que as contrações passaram a vir doloridas, decidimos descer para o centro obstétrico. Eu já mal dava conta de andar. O intervalo entre as contrações era bem curto e eu me agachava a cada vez que elas vinham. Era a posição menos desconfortável, parecia que as contrações eram mais breves assim. Visualizava meu corpo todo se abrindo para a passagem do bebê. E buscava não travar tudo por conta da dor. Essa é a parte mais difícil, se aliar à dor.
Emocionalmente falando, um dos momentos mais duros do parto hospitalar para mim, é quando marido e equipe se afastam para trocar de roupa, já no centro obstétrico. Lembro como se fosse ontem, do pseudo-pânico que senti. Agachando a cada contração, com alguma enfermeira desconhecida ao meu lado. Desejei profundamente minha casa, meu quarto, minha cama. Mas o que parece uma eternidade, na verdade dura uns poucos minutos. Logo eu estava sentada na banqueta já começando a fazer força com toda a minha turma ao redor.
Eu divido meu expulsivo em duas partes. A primeira e a segunda sala. Ou antes e depois do coco. Não fique chocado com o meu excesso de realismo. Parto não é nada limpinho. Tem suor, tem sangue e, às vezes, tem fezes. Pari gêmeos sem essa desagradável intercorrência, mas dessa vez, rolou. Pois bem, depois do bebê que não era bebê nascer, eu dei uma surtada. Achei que não ia dar conta, já não me sentia mais capaz de aguentar aquela dor. Pedi analgesia, pedi cesárea, falei que não queria mais nada daquilo. Acho que nessa hora a equipe faz toda a diferença.
Eu passei quase todo o tempo completamente consciente, mas nesse momento do desespero as lembranças ficam nebulosas. Ainda bem que eu tinha a Ana Paula lá pra registrar tudo, porque foi somente vendo as fotos que "descobri" uma pausa da qual não me lembrava. Taíza sugeriu que eu me deitasse um pouco, momentos antes de seguirmos para uma outra sala. Não me recordo exatamente a razão da mudança de sala. Acho que na outra tinha uma cama de parto melhor ou algo assim.
Quando temos ao nosso lado pessoas que realmente confiam na gente, somos capazes de tudo. Juan já conhecia aquele roteiro e dizia para mim que quando eu queria desistir, era porque estava perto de acabar. Ele tinha razão. Eu tenho essa mania tola de querer entregar os pontos quando aparecem as dificuldades. Ainda bem que escolhi dividir a vida com um homem que segura minha mão e me lembra de que sou capaz.
Seguimos, então, para a outra sala. Eu já estava esgotada. Parecia que estava ali há horas. Fiquei em posição de quatro apoios na cama de parto, tentei fazer força. Lembro de voltar para a banqueta e estranhar por achá-la tão desconfortável. No parto dos gêmeos não me incomodou tanto assim, mas eu não conhecia outro jeito de parir. Queria acabar logo com aquilo, sentei e fiz força, muuuuita força. Acho que em umas três ou quatro contrações, às 2h22 do dia 03 de julho de 2017, Jade nasceu!
Um bebezão enorme, firme e vermelho! Tal qual aquele que visualizei horas antes na casa da minha mãe. Pesou 4.910g e mediu 54cm! Conseguimos de novo!! "Bem-vinda", acho que balbuciei logo que a peguei em meus braços. Ficamos ali agarradinhas por algum tempo e quando eu já não me aguentava mais sentada na banqueta, ela seguiu na companhia do pai para os primeiros cuidados. Dra. Caren me avaliou, nenhuma laceração. Um grande alívio! Seguimos para a sala de recuperação e Jade pegou o peito super bem, mamou um tempão e depois dormiu. Aguardamos o resultado do meu hemograma, já que tive uma perda significativa de sangue, mas deu tudo ok. Nos despedimos da equipe e subimos para o quarto. Algumas horas depois eu já me sentia praticamente 100%! Eufórica, demorei para conseguir descansar. Jade chegou!! Parecia um sonho.
Toda a minha gratidão a essa equipe de mulheres incríveis que mais uma vez estiveram ao meu lado, me apoiando com carinho e competência desde o início da gestação. Vocês são foda!
Juan, meu amor, ao seu lado desejo toda uma vida!
Equipe:
Médica Obstetra - Dra. Caren Cupertino
Enfermeira Obstétrica - Taíza Nóbrega
Acupunturista - Dr. Henrique (Climap)
Fotógrafa - Ana Paula Batista
Marido - Juan Gomes Fernandes
Fiquei até com vontade de parir denovo, que o marido não me ouça. Parabéns Fabiana, sou sua fã desde o parto da Juliana e Joaquim.
ResponderExcluirMeu, só vi seu comentário hoje!! Tenho que cuidar melhor desse cantinho aqui. Parir é viciante kkkkk
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