Caminhando pelo hospital (Taíza, eu e minha mãe) |
Depois de finalizar a burocracia da internação, fomos finalmente para o quarto onde ficamos acompanhando as contrações que estavam mais ou menos de 3 em 3 minutos. E assim seguiram até 5h da manhã quando tive uma parada de progressão. Parou. Tudo. Eu não sentia mais absolutamente nada. Lembro-me bem do medo. Medo de chegar até ali e acabar morrendo na praia. Eu estava então com 5 cm de dilatação. Voltar para casa não era mais possível. "- Só sairemos desse hospital com os bebês nos braços.", falou Dra. Caren. Juan ficou super ansioso com isso! Eu e Taíza começamos a caminhar pelo hospital, subimos e descemos as escadas. Todos olhavam para nós. Eu devia ser a maluca do parto normal de gêmeos. Chamamos uma acunpunturista para fazer uma sessão de indução. Taíza deu uma saída para preparar um chá especial pra mim, tomar um banho e trazer mais óleo de rícino pra eu tomar. E nada acontecia. Eu não sentia mais nada.
Já por volta das 15h30 do dia 18/09, após 10h esperando o retorno das contrações sem sucesso, Dra. Caren veio conversar conosco sobre a possibilidade de romper a bolsa do Joaquim para ver se o trabalho de parto engrenava novamente. Conversamos sobre as consequências. Fiquei preocupada pois sabia que uma intervenção sempre levava a outra e outra e outra e meu parto natural corria o risco de não acontecer. Mas acabamos concordando em tentar. Eu não podia tomar medicação alguma por conta das cesáreas prévias, então não nos restava outra alternativa. Eu estava com os mesmos 5 cm de dilatação quando rompemos a bolsa. Senti aquele líquido quente escorrer e não precisou de muitos minutos para as contrações voltarem com força total!! Lembro que pensei "- você ainda não tinha sentido dor, Fabiana. Agoooora começou!!". Pensei também na Ana Paula (o terceiro anjo), a fotógrafa que registraria meu parto. Perguntei dela pra Taíza. "- Acho que está em tempo de avisá-la". Depois disso, minha memória falha... não me recordo de falas, o tempo deixou de correr normalmente. Lembro das dores. Eu sentia uma cólica constante e contrações que iam e vinham. Pensava em todos os relatos de parto que tinha lido. Em todos os vídeos que assisti. Praticamente todas as mulheres relatavam uma pausa entre uma contração e outra. Algumas falavam que até dormiam. Eu não tinha pausas, tinha cólicas. Durante as contrações Taíza fazia uma massagem maravilhosa na minha lombar. Aliviava bastante e eu sentia que podia ficar ali para sempre. Ana Paula chegou, acho que junto da minha mãe que ia fazer uma visita achando ainda que estava tudo parado.
Tentei de todas as maneiras encontrar algum conforto. E ao mesmo tempo sabia que não era conforto que eu deveria buscar. Fui para o chuveiro e não senti nenhum alívio. Tentei deitar e me arrependi profundamente, a dor ficou quase insuportável nessa posição. A Taíza falou pra eu agachar em cada contração para ajudar na descida do Joaquim. Eu me apoiava nos braços dela e ficava de cócoras sempre que começava uma contração. Depois fiquei com pena da força que ela tinha de fazer pra me sustentar e passei a me apoiar nos braços do Juan. Esses agachamentos não eram fáceis. Doía muuuuuito, mas eu tentava não travar o corpo. Queria que o processo fosse o mais rápido possível, pois a falta de descanso tornava tudo muito intenso e cansativo. Em algum momento, fizemos um novo toque e, se não me engano, eu estava com 8 cm de dilatação. Era o momento de descer para o centro cirúrgico. Pedi uma cadeira de rodas. Eu não conseguia andar, eu não conseguia falar, eu não conseguia nem abrir os olhos. Estava em outra dimensão.
Já no centro cirúrgico apenas recordo que escolhi a banqueta de parto para parir. Nada mais parecia possível. Nenhuma outra posição. Juan ficou atrás de mim o tempo todo. Lembro de desejar 2 minutos de sono. Me perguntei inúmeras vezes por que tinha me metido naquela situação! Mas aí eu me lembrava das minhas motivações e ganhava forças. Tive vontade de desistir muitas vezes e outras tantas achei que não conseguiria chegar ao final. Quando parei de ouvir meus pensamentos fracassados comecei a perceber que precisava fazer força. Estava com muito medo de lacerar e isso estava atrapalhando minha concentração. Sei que em algum momento eu consegui deixar o medo de lado, me apoiei nos braços do marido e passei a fazer toda a força que conseguia a cada contração que vinha. Juan, Taíza e Caren me encorajavam! Diziam que eu estava bem e que Joaquim estava vindo. Minha cabeça ainda tentava boicotar julgando que eles diziam aquilo só pra eu não desistir. Sei lá quantas contrações depois, elas perguntaram se eu queria sentir a cabecinha dele. Coloquei a mão e senti o meu filho! Ele estava chegando mesmo!! Mais algumas forças e ele saiu! "- Conseguimos!!!", era só o que eu pensava. Após desenrolarem uma circular do cordão, ele veio para os meus braços. Tão quentinho!! Conversei um pouco com ele, amei, amei, amei! Que sensação maravilhosa!! Até que as contrações começaram a voltar. Tentei colocá-lo no peito pra mamar, mas ele não quis. As contrações começaram a apertar e eu pedi pra pegarem ele. Foi quando o pai cortou o cordão umbilical que, nesse momento, já havia parado de pulsar. Levaram o Joaquim e eu tive que reunir o resto de minhas forças para trazer Juliana.
Eu estava muito fraca. Senti minha pressão caindo e a visão escurecendo. Parte de mim queria se entregar e dormir. E eu falei "- vou desmaiar!". Dra. Caren falou "- não! Se vc desmaiar vou ter que fazer uma cesárea!!". E aquela palavra ecoou dentro de mim. C-E-S-Á-R-E-A. Não! Não cheguei até ali pra desistir. Colocaram oxigênio em mim e me deram glicose na veia. Agarrei nos braços do marido e novamente fiz toda a força que pude. Juan ficava falando coisas lindas no meu ouvido! Me lembrou o tempo todo que aquele era o meu sonho e que eu estava prestes a realizá-lo!! Meu amor foi um lindo e pariu junto comigo. Juliana nasceu bem molinha, mas com os olhos abertos! Olhando para tudo, curiosa que ela é!! Mas ela estava fraquinha, pois eu não tinha conseguido respirar direito nos últimos momentos. A pediatra pediu pra cortar o cordão e assim foi feito. Mas foi só tirarem ela do meu colo que o berreiro apareceu!! Ela chorou a plenos pulmões e deixaram ela voltar. Fiquei um pouquinho ali... só conhecendo minha menina.
Nosso chamego durou pouco porque eu sentia uma cólica ainda muito forte e meu corpo não agüentava mais sentir dor. Já fazia 4h que eu sentia dor sem parar! Só pensava nos relatos "- depois que o bebê sai não acabam as dores?!!!". Levaram Juliana para os primeiros cuidados e eu deitei na maca. Dra. Caren me avaliou e descobriu que uma placenta estava no canal vaginal, o que justificava a cólica absurda que eu sentia. A outra parecia ainda estar alta. Pedi para ela tirar aquela dor de mim e foi quando ela falou que poderia puxar. Eu queria muito fazer a minha placenta nascer, mas não agüentava mais. E sabia que puxar a placenta poderia gerar um sangramento maior, mas eu não tinha mais forças. Não me lembro ao certo como autorizei, mas lembro de estar desesperada! Deve ter sido algo como "- tira, tira, tiraaaa!!!!". Ela puxou, eu vi estrelas!!! As placentas estavam grudadas e saiu aquele "bifão" enorme de dentro de mim! "- o terceiro filho" pensei. A dor desapareceu! Eu não tinha mais cólicas."- Acabou!" e eu pude fechar um pouco os olhos. Dra. Caren então constatou "- nenhuma laceração!" e eu queria pular de alegria!! Que sentimento incrível!
Percebo que na sala ao lado a agitação estava grande. Juan veio me avisar "- Joaquim pesou 4.155g e Juliana 3.115g!!!". Fiquei abobalhada!!! Eu consegui parir dois bebês e eu pari um bebê com mais de 4kg!!! Nem nos meus sonhos mais incríveis imaginei algo assim. De repente, toda aquela dor fez sentido! E eu estava muito feliz por eles serem grandes e saudáveis!! Desde que me descobri grávida de gêmeos, temi a prematuridade, temi o baixo peso. Esse fantasma ficou lá atrás. Taíza estava eufórica! "- É um recém-nascido e um bebê de 2 meses!!". Rimos muito! Juliana deitou ao meu lado e já pegou o peito direitinho. Taíza segurou Joaquim para mamar no outro peito. E assim ficamos um tempinho. Foi emocionante amamentar os dois ao mesmo tempo pela primeira vez!
Estavam todos muito felizes e aliviados. Tudo tinha dado certo! Conseguimos!! Algum tempo depois, subimos para o quarto, tiramos algumas fotos e eu pude descansar com meus pequenos nos braços. Eu estava exausta, mas nunca me senti tão realizada!! Naquele cenário quase perfeito só faltavam minha Júlia e minha Joana. Mas alguns dias depois a família estava em casa, completa!
Meu time!!
Da esquerda pra direita: Ana Paula Batista (fotógrafa), Taíza Nóbrega (doula, hoje, enfermeira obstétrica), eu e os babies, Dra. Caren Cupertino (médica obstetra) e Juan (meu amor).
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Aaahhh coisa linda meu Deus! Eu tive certeza que a Caren seria minha obstetra quando vi a notícia do Nascimento do Joaquin e da Juliana.
ResponderExcluirFiquei curiosa aqui sobre essa nova aventura. Mais uma vez parabéns por esse partaço.
Fabi querida, que emocionante reviver esse dia! Apesar de já sentir nossa afinidade desde a primeira visita, eu não sabia o quanto esse parto nos aproximaria nos anos seguintes. Me sinto muito privilegiada de poder ilustrar essa história tão linda e inspiradora. Me sinto muito privilegiada por ter conhecido vocês.
ResponderExcluirBeijo!
Jesus!!! Quase pari com vc!!! E olha que nem estou grávida!! Que relato lindo! Emocionante!! Parabéns pela coragem! Pela força !!
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